sexta-feira, 24 de junho de 2011

Zimbabwe

Viagem de Livingstone para Lusaka sem problemas. Como sempre, a camioneta foi parando ate encher todos os lugares. Isso deu para um atraso de 2 horas. O senhor que se sentou ao meu lado trabalhava para uma ONG local, que promovia a luta contra a SIDA nas aldeias, tanto a nivel de prevencao como tratamento e discriminacao. Aqui parece haver uma grande consciencia da doenca, e uma grande luta para travar e mesmo diminuir a incidencia desta. Mas numa cultura onde o homem e' o dono das terras e da casa, e a mulher nao tem outro meio de subsistencia, nas aldeias quem manda e' sempre o homem, e por isso a mulher tem que se sujeitar a tudo que o homem quiser. Por isso e' bastante comum mulheres casadas contrairem o virus HIV atraves do marido, que raramente e' fiel por estas bandas.
A conversa correu bem, e quando chegamos a Lusaka, ele ofereceu-me boleia para o hotel. Ainda bem, porque chegamos ja de noite, e quando sai da camioneta havia 50 taxistas raivosos (numero propositadamente exagerado, para gerar simpatia por parte dos ciber-leitores), a tentar arrancar-me a mochila para eu ir no taxi deles. Hotel simpatico e confortavel, e quente(!!!), refeicao simples. (Fairview Hotel). Dia seguinte acordar 'as 6 para apanhar a camioneta para Harare, Zimbabwe. A estacao de camionetas, de dia, ja parecia mais calma e civilizada. Entre puxoes para esta e aquela camioneta, escolhi a que tinha melhor aspecto para ir para Harare. Partiu ao meio-dia. Atravessar a fronteira foi muito facil, fizeram um posto comum, moderno, para sair da zambia e entrar no Zimbabwe. Havia babuinos a passear entre a fila de espera, mas desta vez eu estava atento!

Decidi ir ao Zimbabwe porque a minha amiga Ana, que se mudou para la ha 1 ano, tinha dito que aquilo era muito desenvolvido e organizado, e como so' se ouvem mas noticias sobre o pais, estava com curiosidade.
Cheguei as 22.00, a Ana foi-me buscar 'a estacao. "Hola (e' espanhola), que tal el viaje?, tra la la". "Vamos directos para o bar, porque a entrada fecha 'as 23, e depois ja nao ha sitio para irmos!". Era sexta-feira, va se la perceber...
Assim, directo da camioneta apertada e "bem cheirosa", fui directo para o bar mais "pijo" de Harare. Na zona residencial, so brancos bem vestidos la. La me arranjaram uns salgadinhos e umas cervejas para enganar a fome. Aparecerem uns amigos da Ana, conversa puxa conversa, e passado uma hora ja tinhamos posto toda a gente no bar a dancar em cima das mesas. Como sao passaros madrugadores, 'as 2 ja estavamos em casa.

Mais uma casa gelada, preparada tao e somente para o verao. Mas uma casa fantastica, numa zona residencial da cidade. Como descobri depois, Harare esta' dividida entre zona de vivendas e zona de edificios sociais de 4 ou 5 andares. Bairros de lata nao os vi, mas pela certa que os ha'. A zona de vivendas e' algo fenomenal. Quem tem um minimo de dinheiro mora nesta zona. Vivendas boas ou melhores, todas com um jardim enorme a toda a volta, todas (e acho que sao mesmo todas), com piscina. As ruas sao todas largas, os passeios sao de relva meticulosamente tratada, e arvores a fazer sombra. Pequenos centros comerciais ao ar livre, espalhados, a maior parte a distancia para chegar la' a pe'. A Ana mora numa vivenda com 2 quartos, 3 salas, cozinha enorme, empregada interna, seguranca, e jardineiro (e' o staff standard, parece). A renda: 1200 USD/mes. Para quem mora em luanda, isto da' para chorar... Nem sequer ha' transito para chegar ao centro!!!

No dia seguinte, uma visita a um pequeno parque nacional, com gravuras rupestres pre'-historicas. A zona esta' mantida como deve ter sido ha 50.000 anos 'atras, quando os primeiros homens andaram por aqui. Foi nesta parte do mundo (na zona que vai do Quenia ate ao Zimbabwe) que se cre que o homem evolui ate 'a sua forma de Homo Sapiens. As gravuras sao perfeitas, extremamente nitidas ainda, gravadas na parede de uma especie de anfiteatro formado naturalmente numa zona rochosa, onde eles provavelmente viviam. Igualzinho 'as figuras que temos nos nossos livros de historia do ciclo (segundo ciclo!).

Do parque voltamos 'a cidade, almocar um grande T-bone num dos pequenos centros comerciais. Civilizacao, e' o que e'! Depois, bem cheios, fomos visitar os leoes. Fomos a um pequeno parque, onde no nosso carro, andamos no meio de leoes bem crescidos. Mas eram animais calmos, domesticados (o tratador andava a pe no meio deles a fazer-lhes festas), optimos para tirar umas fotos. Depois, visitamos um pequeno zoo, onde tinham toda a especie de felinos africanos: leoes, chitas, hienas, cervais, e outros pequenitos que nao me lembro do nome. So tinham uma simples rede a separar os animais enjaulados dos animais visitantes, pelo que ficavamos muito perto dos leoes. Demasiado, talvez. A certa altura, estava a ver um dos leoes (bem crescido), quando este comeca a correr em direccao a mim, foram 2 segundos, e ele parou a 1 metro de mim. Fiquei branquinho de medo. Olhei para tras e percebi. As 4 pessoas que estavam comigo, momentos antes tinham virado costas e ido embora. Vi pela primeira vez o que sempre tinha ouvido dizer: os predadores selvagens (leoes, leopardos, tubaroes) quando vem alguem a fugir (virar costas e ir embora foi claramente entendido como fugir), fazem um clic na cabeca do animal, e ele imediatamente entra em modo de ataque. Menos mal que desta vez tinha uma redezinha a separar-nos. Como nao tinha forca nas pernas, fiquei ali a olhar para o bicho. Ele fartou-se e foi-se embora. Quando eu fiz o mesmo, la desatou ele outra vez a correr. De longe, e' um animal muito bonito a correr!

sábado, 18 de junho de 2011

Victoria Falls



Passei 4 dias optimos na ilha Bovu (e' esse o nome local).

Como a ilha esta' a 40 kms da cidade, ou se apanha boleia logo de manha quando a pick-up vai 'a cidade, ou nao se sai da ilha o dia todo.
Primeiro dia fiquei na ilha. Aproveitei para comecar a olhar para o itinerario da viagem com mais detalhe, e a estudar os meios de transporte, horarios e alojamentos. Tambem, para ler, relaxar, jogar 'as cartas, e falar com o resto das pessoas na ilha.

O dia seguinte, fui ate 'as grandes Victoria Falls. A pick-up da illha e' o unico meio de transporte que as pessoas da aldeia junto 'a ilha, tem para ir ate 'a cidade. Antes, levavam 2 dias para ir e vir. Agora, em 3 ou 4 horas estam despachados. Assim, alem de mim e do condutor, iam mais 8 pessoas no carro. Tudo normal...

As Victoria Falls, como estao no rio Zambezi, tem uma margem em cada pais, Zambia e Zimbabwe. Eu fiquei so do lado da Zambia, embora haja uma ponte que permite atravessar facilmente para o outro lado (ponte esta donde fazem um famoso bungge-jumping). A zona envolvente 'as cataratas esta' isolada e e' um parque nacional. Ao entrarmos aconselham-nos a levar um impermeavel, por causa da nuvem de vapor que a catarata provoca. Eles sao muito prestaveis e alugam-nos. Eu, muito desconfiado, aluguei um, a achar que estava a ser bem enganado. Nao estava. Ao aproximar-me da zona de queda de 'agua, comeco a ver uma nuvem 'a frente, e a sentir uma chuva miudinha. A cada passo que dava a chuva ficava mais forte. Ao fim de 10 metros, chuvia com forca. Ao fim de 20 metros, parecia uma chuva tropical, como nunca vi! A 'agua caia de cima, caia de baixo, caia dos lados, caia por todo o lado! Em menos de 30 segundos fiquei como se tivesse mergulhado no mar. Alem do desconforto que provoca, a nuvem faz com que nao se veja absolutamente nada das quedas de 'agua. So uma nuvem branca. A minha maquina digital e' 'a prova de 'agua, mas as fotografias so mostram uma grande mancha branca de nada...Fiz a visita em 10 minutos, e sai do chuveiro. Quando sai, estava razoavelmente seco da cintura para cima, mas encarcado da cintura para baixo, incluindo as botas. Com o hotel a 40 kms, decidi por-me ao sol, tirar as botas e tentar secar-me um bocado primeiro. Sentadinho em frente ao rio, tiro as botas, saco um pacote de batatas fritas da mochila, e quando estou a acabar de me instalar bem, aparee um babuino e rouba-me o pacote de batatas! Os babuinos sao relativamente grandes, para macacos, e este era um macho com uns dentes ameacadores. Peguei nas minhas coisas e mudei de sitio, enquanto ele acabava de comer as minhas batatas. Ja estava eu sentado mais 'a frente, e vem outra vez o animal, ainda com fome. Desta vez tenta levar-me a mochila! Tive que lutar um bocado com o bicho, mas fiquei com a mochila. A minha primeira luta com um babuino, vencida!
Voltei para a cidade, onde a boleia para a ilha estava 'a espera.


Tenho que dizer que ainda vi um bocado das cataratas. E sao realmente imponentes. Estava com receio que fossem so' mais umas quedas de agua, parecidas 'as de Kalandula. Mas nao, e' outra dimensao, poder e forca. Mesmo vendo pouco, sao esmagadoras. E o barulho que fazem e' brutal.

Passei mais 2 dias na ilha, basicamente a ler e a conviver com os restantes personagens com quem partilhava a ilha. Quinta-feira, dia 10, ganhei coragem e deixei a ilha. Apanhei boleia ate Livingstone, fui ate a estacao local de camionetas, e apanhei a seguinte para Lusaka. Assim de simples, viajar em 'Africa.



terça-feira, 14 de junho de 2011

Chegada a Zambia

Windhoek-Livingstone: 1.054kms.
A viagem foi feita de noite, o que e' mau porque nao vi absolutamente nada da paisagem da Namibia. O autocarro arrancou e eu, cheio de sorte, fiquei com dois lugares so' para mim. Para dormir vai ser optimo! Como aprendi entretanto, os autocarros em Africa vao sempre completamente cheios, nem que tenham que meter passageiros a meio da viagem. Que foi o que me aconteceu, com alguem a acordar-me 'as 3 da manha, eu mesmo no meio dum sono profundo, e ter que me encostar 'a janela da camioneta. Desagradavel, muito desagradavel. Menos mal que o homem nao sabia portugues (espero).
A camioneta seguiu a estrada ate ao norte, e depois foi sempre junto 'a fronteira com Angola, pela faixa de Capri, ate 'a fronteira com a Zambia. Ja de dia, passamos a fronteira. O posto era numa casa velha, e os passageiros do autocarro foram todos ao mesmo, o que aumentou bastante a confusao no sitio. Basicamente era uma sala com um balcao de madeira corrido, dois funcionarios de um lado e os passageiros todos do outro. Tudo ao monte, mas sem apertos nem empurroes. O visto que precisava arranjaram-me no proprio local, e quando todos os passageiros estavam despachados, seguimos viagem. Primeira fronteira africana vencida com distincao!
Na camioneta iam 3 brancos: eu, um chines(turista), e um branco com aspecto muito cacimbado (quem nao sabe o que isso e', va' a angola perguntar). Em conversa com outro passageiro, descobri que o branco cacimbado era dono de um hostal em Livingstone. Falei com ele, e ele indicou-me no Lonely Planet qual era. Pois exactamente um dos que me pareciam mais apelativos. Ele convidou-me a ficar la', ja' tinha transporte 'a espera na paragem. E assim cheguei ao meu verdadeiro primeiro destino.
O transporte era a classica caixa de uma pick-up. Fomos buscar mais 4 hospedes que tinham chegado nesse dia (seus amigos descobri depois), e siga para o local. 40 kms de estrada boa, mais 5 de terra batida. Menos mal que os amigos compraram cerveja que deu para a viagem toda.
Atraves da mata chegamos ao rio. O rio, o Zambezi, e' um dos maiores de Africa, e nesta altura do ano ainda esta muito cheio. Como comparacao, parecia o Douro em altura de cheias. O rio nasce no Zaire, passa por Angola, entra na Zambia, e vai a fazer de fronteira com a Namibia, Botswana, e depois Zimbabwe. Passa para Mocambique onde desagua no Indico. Ainda tem tempo para fazer as famosas Victoria Falls, as maiores cataratas de Africa, e razao porque eu vim a Livingstone. A ilha fica 40 kms a montante cataratas.
Tinhamos uma canoas tradicionais 'a nossa espera, e fomos rio abaixo, com o "condutor local", ja iluminados pelo por do sol, ate nos aparecer uma ilha cheia de arvores, e no meio dessa ilha, um bar em madeira onde as canoas encostaram. Veio-me logo 'a cabeca o fantastico Pelican Bar na Jamaica. E para quem conhece, sabe como estou a elevar a fasquia!
Nao descrevo mais a ilha, e' realmente fenomenal. Podem ir ver ao site: http://www.junglejunction.info/. Eu tive direito a uma cabana a 3 metros do rio, virada para o nascer do sol.
Desta vez o Lonely Planet tinha razao!

segunda-feira, 13 de junho de 2011

O inicio

Como acontece muitas vezes neste continente, o plano teve que ser alterado.

Tive que ficar em Luanda ate ao dia 1 de Junho. Como o meu visto de trabalho terminava dia 2, nao deu para ir de camioneta ate 'a Namibia. E os vistos em Angola nao sao faceis de renovar... Assim, no dia 2, viagem de aviao Luanda-Windhoek.

Para comecar bem a viagem, o aviao teve um pequeno atraso de 5 horas. Com isso cheguei de noite a Windhoek. Menos mal que tinha organizado transporte, porque o aeroporto fica a 30 kms da cidade, e nao ha taxis. Fui directo para o hostal. Mal cheguei comecei logo a sentir nos ossos que Africa nao e' so' calor. Estavam uns 10 ou 15 graus. O grande problema e' que os africanos sao como os portugueses, acham que nao e' preciso aquecer as casas porque o frio e' so' durante 3 ou 4 meses. E por isso o hostal era um verdadeiro congelador! Realmente era como dizia no Lonely Planet: "uma piscina optima, bar com esplanada que fazem as delicias dos hospedes". O gajo claramente nao veio a windhoek em Junho! Com 10 graus e sem aquecimento, jantar na esplanada nao e' muito delicioso... Confesso que nao vim preparado para este frio...
Assim, cheguei eram 22.00, fiz o check-in e meti-me na cama. Menos mal que o meu quarto tinha 3 camas. O saco-cama e os 3 cobertores foram suficientes para me aquecer.

Dia seguinte acordar cedo, tomar o pequeno almoco na esplanada deliciosamente fria. Pareciamos uns pinguins, todos a comer ao balcao juntinhos para nos aquecermos. Depois, dar uma volta na cidade. A cidade e' organizada, pequena e segura. Deu para andar sempre a pe'. Mas nao e' propriamente muito bonita. Lembrou-me um suburbio qualquer de Londres ou Chicago. Limpo, calmo, mas sem muitas arvores ou parques, e as pessoas, 99% negros, todos agasalhados com gorros e grandes casacos. Deu para comprar umas coisas que me faltavam (canivete, pastilhas purificadoras de agua, comida) e investigar os transportes. Camioneta para a Zambia hoje as 16.00, ou entao so' daqui a 3 dias. Decidi fugir rapidamente do congelador. Comprei o bilhete, almocei, voltei ao hostal, peguei nas malas e fui de taxi para a estacao das camionetas. A minha camioneta era optima, nova e confortavel. Assim, no dia 3 de Junho, a camioneta partiu, 'as 19.00 horas em direccao a Livinsgstone, Zambia!