segunda-feira, 8 de agosto de 2011

The greatest show on earth

Apos uma primeira noite num lodge simpatico (Mbalageti Lodge), com uma vista unica sobre as planicies infindaveis do Corredor Oeste do Serengeti, arrancamos cedo para mais um dia pelos trilhos do parque. O objectivo na minha cabeca, sempre, era ver as grandes manadas de gnus.
- Jonathan, onde vamos hoje?
- Vamos para Seronera, no centro do parque.
- Achas que vamos ver a grande migracao la'?
- Sim, la devemos ver.
Desconfiei um bocado, ja que por esta altura deviam andar mais pela zona oeste, e norte, mas ele e' que e' o guia...
Pouco tempo depois de sairmos, vemos um grupo grande, mas estavam longe, e como nao podemos sair dos trilhos, nao podemos proximar-nos. Por sorte, paramos mais 'a frente para ver outro pequeno grupo, e entretanto o grande grupo apanha-nos. Umas centenas de gnus e zebras. Quase a chegarem ao carro, uns quantos deles comecam a correr noutra direccao, e os outros vao todos atras. Em 5 minutos, centenas de animais desaparecem atras das arvores. Como nao podemos sair dos trilhos, perdemos os animais. Seguimos caminho. Vimos uma chita, a descansar 'a sombra. Mas eramos nos e mais 15 carros! Quanto mais nos aproximavamos do destino, mais animais apareciam, mas tambem mais carros. Vimos 2 leopardos numa arvore, nos e mais 10 carros. Fim do dia, dirigimo-nos para o acampamento. E' um parque de campismo aberto, sem vedacoes, no meio da planicie. Tem dois telheiros: um deles esta' cheio de cozinheiros, uns 20, ja que todos os grupos tem um cozinheiro. Estao todos numa grande azafama a preparar o jantar para os safarianos que estao a chegar do seu dia a comer po no parque. O outro telheiro e' onde sao colocadas as pequenas mesas de campismo para os clientes jantarem. Ao lado, as casas de banho, muito limpas, ha que confessar. Ajudo o meu guia a montar a minha tenda, no final do parque.
- Se quiseres ir 'a casa de banho durante a noite, leva lanterna, por causa das hienas.
- Oi? Das hienas?!?!
- Sim, durante a noite podem andar pelo meio das tendas, e convem levar lanterna para nao ser atacado.
Lembrei-me logo de ter lido no livro "Long Way Down", que um turista dormiu com a cabeca de fora da tenda, e as hienas lhe comeram a cabeca. Como nao estou a ver Com ou sem lanterna, ninguem me ia tirar da tenda durante a noite!
O meu cozinheiro (nao e' para todos, um cozinheiro privado!), fez um jantar rapido e simples, e depois da sobremesa atirei-me para dentro da tenda.
Eram umas 3 da manha, acordei. Barulho. A tenda nao era grande, a minha cabeca ficava quase a bater no topo da tenda. Ouvia barulho muito perto da minha cabeca. Passos? Vento?
As hienas sao ferozes, tem a mandibula mais poderosa de todos os predadores africanos, capaz de esmigalhar ossos sem esforco.
Abro a tenda para ver e me comerem a cabeca?
E com estes pensamentos tentei adormecer. Ou o cansaco era muito ou o medo nao era tanto, porque meia hora depois ja estava a ressonar.
Acordei antes do sol, e' a melhor altura para ver animais. Ganhei coragem e pus a cabeca de fora da tenda Ainda escuro, so' vi campistas, nada de hineas. Dei a volta 'a tenda 'a procura de pegadas. Nao encontrei nada de conclusivo, mas o que percebo eu de pegadas de hienas?! Se as hienas eram de verdade, nao sei. O medo era!
Arrancamos e 5 minutos na estrada passamos por um grupo de hienas, umas 10 incluindo 4 crias. La esta', como nao conseguiram comer nenhum turista durante a noite, estavam a atentar apanhar um leopardo que estava numa das arvores. Mais uma volta, vimos um rinoceronte e alguns elefantes, e regressamos ao acampamento, onde o meu (!!!) cozinheiro ja tinha um grande pequeno-almoco preparado.
Durante o dia, mais uma volta. Muitos carros, mas muitos animais tambem. Elefantes, girafas, zebras, impalas, hipopotamos. Fomos cada vez mais para sul. Planicies enormes, amarelas incandescentes, vazias.
- Jonathan, isto e' muito bonito, mas esta' vazio.
- Pois e'. E' a epoca seca.
- Pois, se calhar e' por isso que nao ha gnus aqui.
- Pois. Devem estar no norte.
- Mas nao disseste que iamos ver os gnus aqui?!?!
- Nao nao, e' a epoca seca, eles nao estao aqui, isto esta' seco!
Tenho a certeza que quem ja trabalhou em Africa acredita que esta conversa e' real. Por muito habituado que eu estivesse, fiquei fod.... Gastei uma pequena fortuna para ver a grande migracao, e este cab... andou a passear-me pelo lado contrario do parque! Tres dias a enganar o burro do turista!!!
- Olha la', o' meu ca.., desculpa, Jonathan, se formos ate ao norte do parque, achas que vemos a migracao? (a frase nao foi esta, mas a furia era equivalente)
- Provavelmente.
- E conseguimos ir e vir num dia?
- Sim sim, se sairmos cedo. Sao 150 kms ate la.
Pois bem, depois de muito pensar e insultar mentalmente, decidi que, perdido por cem, perdido por mil. Telefonei ao chefe dele, negociei mais um dia, e:
- OK Jonathan, Pago mais um dia. E se virmos o que eu quero, dou-te 50 dolares.
Os olhos do homem ate' brilharam! Dia seguinte, 'as 6 da manha, arrancamos para norte, a todo o gas!
Passamos por um grupo de leoes, mas nem abrandamos. Os animais iam desfilando 'a nossa volta, mas iamos sempre a apontar a norte. O parque comecou a ficar verde, mais gnus e zebras espalhados na paisagem. Os carros quase desapareceram, 2 ou 3 o caminho todo, em sentido contrario. Paramos so uma vez para ver dois girafoes a lutar, a mandar grandes pescocadas um no outro. Muito bizarro, como tudo o que envolve as girafas.
Ao fim de 3 horas de terra batida, chegamos ao final do parque. Montanhas verdes, vegetacao alta. Dai para a frente era o Quenia. No meio da montanha, o posto fronteirico, so' com dois tipos mal arranjados a fazer de guardas. O Jonathan foi perguntar se tinham visto os animais. Por 50$, um deles levava-nos a uma grande manada que ele tinha visto no dia anterior. 30$. OK, vou so trocar de roupa.
Vai ate' ao barracao, e regressa bem aprumadinho, com o seu fato verde de ranger, e espingarda ao ombro. Mete-se no carro e arrancamos, agora com a autoridade no carro. Primeiro trilho 'a direita, pelo meio da montanha. Tudo verde, muito verde 'a volta. Atravessamos uma colina, depois outra. O trilho mal se ve, andamos no meio da erva. Atravessamos mais um vale, mais outra colina, e entao comecam a aparecer...
Do alto da colina vemos um vale extenso, com centenas, milhares de animais. Todos espalhados, tranquilos, como se tivessem chegado ao paraiso dos gnus. A extensao da paisagem e' enorme, nao ha carros 'a vista. Nao paramos, andamos andamos andamos, sempre com animais 'a nossa volta. Sentia-me como se estivesse no Jurassic park, a ver os dinossauros pela primeira vez. Meu amigo, mereces os teus 50$, pensei eu.
Mas eles nao paravam, sempre a avancar. Havia mais. Ao fim de uma hora, ao passar uma colina, a paisagem muda instantaneamente para amarelo seco. E ao fundo, uma manada gigantesca!!! Primeiro uma fila enorme de gnus, a caminhar uns atras dos outros, cabeca baixa, como se fossem condenados a atravessar o deserto, sempre a andar, devagar, sem parar. Talvez 2 kms de fila indiana. Do outro lado da outra colina, a fila acaba num grupo grande de animais. Como se fosse agua, o fio de animais em movimento vai aumentando a poca no final. Na poca, os animais estao todos parados, sem saber para onde ir, virados para todos os lados. Ao longe, mais abaixo, outro grupo, ainda maior. Mas nesse grupo, de repente, alguns comecam a correr desenfreadamente. Na planicie, vejo-os a formar um triangulo, como se fosse a cavalaria a atacar. Depois, estica estica, ate que o triangulo se transforma numa linha na planicie, que vem em direccao ao primeiro grupo, onde nos estamos agora parados. E passado uns minutos os dois grandes grupos estao unidos por uma linha de animais a atravessar a planicie.
Nao sao os animais mais inteligentes do mundo. Uns vao para norte, outros para oeste, outros para sul. Parecem todos perdidos. Quando algum se atira por um caminho, alguns vao atras, e forma-se entao uma grande fila, nao interessa para onde vai. Do mesmo grupo, podem estar a sair animais em 3 ou 4 direccoes diferentes ao mesmo tempo. O que eles tem e' q andar.
Neste momento ja nao seguimos trilhos. Vantagens de ter a autoridade no carro connosco. Descemos ate ao grande grupo, e conduzimos no meio da manada. A toda a volta so vejo animais, gnus, todos a olhar para nos, mas sem se chatearem, sempre a mugir, uns para a frente, outros para tras. Saio do carro para aliviar a bexiga, e afasto-me um bocado. Estao todos a olhar para mim, como se fosse a coisa mais estranho que ja tinham visto. Volto para o carro e arrancamos. Passados 50 metros salta um leao do meio da erva alta, que quase que atropelavamos. O pobre estava escondido, a tentar apanhar um gnu. Se eu tivesse saido do carro mais 'a frente, o leao tinha-me atacado era a mim! E' por descuidos destes, e excesso de confianca, que os turistas sao mortos por animais selvagens. E eu besta, ia ser atacado sem sequer estar a ser filmado...
Andamos mais uma hora, sempre com grandes manadas de animais 'a volta, ate' chegarmos ao mitico rio Mara. Estamos na epoca seca e por isso o rio tem pouca agua. Os animais podem atravessar 'a vontade sem risco de serem atacados por crocodilos. Quando regressam para sul, uns meses depois, ja' cm a agua mais alta, e' que sao atacados. Onde paramos so vemos alguns hipopotamos. Saimos do carro e desco ate ao rio. Nao ha' erva alta, a visibilidade 'a nossa volta e' boa, e o ranger tem espingarda. Um dos hipopotamos levanta-se do rio e comeca a andar na minha direccao ameacadoramente. Vejo entao que esta uma cria no rio, e esta deve ser a mae chateada. Afasto-me da margem e a mae hipo acalma-se e deita-se outra vez na agua.
Missao cumprida, regressamos entao, pelos mesmos trilhos ja percorridos. Os gnus na zona seca ja la nao estao, ja saltaram mais uma colina. O vale verde ainda esta cheio de animais. Estes aqui ja encontraram o cantinho deles. Entretanto comeca a chover. Deixamos o nosso ranger na cabana dele, e fazemos-nos 'a estrada, de regresso ao acampamento. Cansados mas totalmente satisfeitos. O Jonathan confessa-me que nunca tinha visto nada assim.
Fotografias deste dia? Nao ha, ou quase. A camara digital ficou sem bateria no dia anterior, e o telemovel com camara estava nas ultimas. E no parque de campismo nao havia onde carregar. O meu ultimo rolo (sim, ainda tenho uma maquina de rolo), ja so tinha 6 fotografias. Um dos espectaculos mais impressionantes e emocionantes que ja vi, so' vai ficar guardado na minha memoria. Acreditem na historia se quiserem.


No caminho da manada

A familia do gatuno


Para nao acharem que estou em casa, a sacar as fotos da net
 
G-N-U: gnu!

Alguns gnus

Uma amostra de manada

Fotografia a preto e branco...

Sempre a dormir, os hipos.

Cu cu!!!

Vi uma chita, vi uma chita!

Camping


Hiena pela madrugada


A minha tendinha ao nascer do sol. Ao fundo, bufalos.



Elefantes na pradaria

Ha sempre alguem atras das minhas batatas






Tendas de luxo. Para quem quiser abrir os cordoes 'a bolsa.

A caminho do norte

Para norte!!!

Sozinhos no norte do Parque

Gnus por todo o lado


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