Na visita ao Rwanda, um dos objectivos era ir visitar os nossos primos gorilas. Na fronteira entre o Rwanda, o Uganda e o Congo situam-se uma serie de vulcoes que formam um habitat unico. Nos vulcoes do lado do Rwanda foi constituido o Parc National des Volcans, com o principal objectivo de proteger os ameacados Gorilas de Montanha. Foi aqui que trabalhou a investigadora Diann Fossey, que inspirou o filme "Gorilas na Bruma", com Sigourney Weaver.
Alem do problema do preco (500$), a entrada para o parque tem o problema de esgotar 3 meses antes. Mas como ouvi dizer que de vez em quando havia desistencias, resolvir arriscar. Fui ao Gabinete de Turismo e deixei o meu nome e contacto. Ja havia uma lista de 10 pessoas em espera. Esperei 1 dia, 2, 3, 4 e nada. Uma desistencia, que foi para outros. Ao quinto dia, 9 da manha, ja farto da cidade, passei no Turismo antes de ir comprar o bilhete de autocarro para a Tanzania.
"Ligaram agora mesmo a cancelar um bilhete. Esta' interessado?"
"Oi?""Gorilas! bilhete! Cancelaram agora. Quer?"
"Oi?!" :)))))))))
E siga para bingo. Em vez de bilhete para a Tanzania, fui a correr comprar bilhete para Musanze, no interior do pais. Correr fazer as malas, pagar hotel, e ao meio dia, autocarro.
A paisagem por este lado sempre igual: colinas verdes, todos os cantos cultivados e tratados, estradas boas ou em reparacao, autocarro a conduzir devagar. Chegada a Musanze, mas ainda e' preciso fazer 20 Kms ate Kinigi, a entrada do parque. Autocarro pequeno agora. Afinal Kinigi fica a 5 kms da entrada do parque, e da pousada onde decidi ficar. Uma viagenzinha de mota ate la', e esta' o assunto resolvido.
Chegado, olhar 'a volta: estou no meio do campo, longe da estrada. Os campos todos cultivados, como pano de fundo os vulcoes, cada um, um pico bem separado do seguinte, triangulares, como as montanhas nos desenhos das criancas. Depois de me instalar, ainda tive tempo para passear, ver o por do sol, ouvir as pessoas a bater em tachos e panelas,e a gritar pelos campos, para afugentar os passaros, que lhes comem os cereais.
Como sempre, ver animais comeca cedo. 'As 6.30 os varios turistas (nao mais de 80 no total), encontram-se no escritorio do parque, onde sao divididos em grupos de 8, cada um destinado a um grupo diferente de gorilas. Cada grupo e' uma familia, com numeros diferentes de elementos. Ao nosso grupo tocou-nos a familia Hirwa: 1 grande macho, 3 femeas, 2 jovens e 3 bebes. Vamos de carro ate perto da zona onde esta o nosso grupo, e depois a pe. Sempre a subir, os campos terminam num muro de pedras que marca os limites do parque. Logo depois comecam as montanhas. Saltando o muro, passamos por florestas de bambus, que se transformam em arvoredo denso. Muito denso. Um dos guias vai 'a frente a abrir caminho com uma catana. A subida e' muito ingrime. Apos duas horas a subir, so a ver arvores e arbustos, andar de gatas e arranhado por espinhos, aparece uma pequena abertura na cortina verde e vemos que ja estamos alto, muito alto! Os campos la em baixo, pequeninos. E dos gorilas, nada. Mas o parque esta' bem organizado. Tem batedores que passam todo o dia com os gorilas e sabem sempre onde estao. Mais 20 minutos de subida e dao-nos o sinal: o grupo esta' perto. Temos que deixar todos os sacos e comida, e seguir devagar, sem movimentos bruscos e a falar baixo. Avancamos. Comecamos a descer para atravessar um pequeno vale. Os gorilas estao a andar, a subir do outro lado. Vamos ter que pedalar mais um bocado. Descemos a escarpa coberta de arbustos. A vegetacao e' tao densa que nao conseguimos por o pe' no chao, andamos em cima das plantas, que, verdinhas como estao, escorregam impecavelmente bem. 100 metros em meia hora. Do outro lado aparece um grande gorila, mas desaparece logo na vegetacao. Comecamos a subir a outra escarpa. Eu vou no final do grupo. Param todos. "Entao, ja cansados?" Afastam-se para o lado, e ali, a dois metros de mim, um gorila entretido a comer folhas e ramos. Pelo menos do meu tamanho, talvez maior. Olho para o outro lado, e uma cabeca preta, coberta de pelo negro, aparece do meio dos arbustos, e tranquilamente desaparece. Subimos mais uns metros e, a toda a nossa volta, vemos a vegetacao a mexer, aqui e ali, um gorila aparece e desaparece. Estao habituados 'a presenca de pessoas, agem como se nao estivessemos ali. Durante uma hora (nao podemos ficar mais tempo para nao stressar os animais), ficamos ali, pendurados numa montanha verde, com gorilas 'a nossa volta. Os mais pequenos aproximam-se mais, curiosos, os maiores nao nos ligam, andam para ali a comer as suas folhas, ramos, frutos.O grande macho, conhecido como silverback por causa do pelo ja a ficar cinzento, fica perto de nos. Um bicho enorme, uma cabeca gigantesca, uma mao capaz de partir um tronco de bambu (para quem nao sabe, e' coisa muito rija, acreditem) ou um pescoco de um engenheiro, sem sequer se aperceber. Os nossos guias, 3, constantemente fazem ruidos guturais, chamamentos roucos, para indicar aos nossos anfitreoes que estamos calmos e relaxados. Como bons anfitreoes, eles respondem com os mesmos sons, como quem diz "se voces estao bem, entao nos estamos bem".
A grande escalada faz-nos sentir que estamos longe de tudo e de todos, embora la em baixo, 'a nossa vista, esteja uma aldeia e os campos cultivados.
Ao fim da hora, contrariados, seguimos a ordem do guia para regressar. Todos com sorrisos na cara, de barriga cheia.
Dizem que sao parecidos connosco, os olhos quase humanos. Sinceramente, a mim nao me pareceram assim tao humanos. Mas nao deixam de ser criaturas incriveis, animais elegantes, poderosos, ageis e inteligentes, que conseguem interagir connosco de uma forma muito especial.
Voltei ao hotel ja final da tarde. Um bom jantar e depois uma boa conversa junto 'a lareira.
Dia seguinte, mota e autocarro no regresso a Kigali. Apre, que ja' nao posso com esta cidade!De madrugada, apanhei o autocarro para a Tanzania.
Prochaine episode: SERENGETI!
Seguindo o blog :)
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By,
Nah Phatcholly
Grande aventura...mt bom. Tou com um bocado de inveja vá :)
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