Deixei o meu guia e o meu cozinheiro numa pequena vila na fronteira do parque, e apanhei um candongueiro ate Arusha. Numa viagem de 100 kms, atravessamos uma paisagem salpicada de vulcoes e vastas planicies, com alguns lagos, cada um, um parque natural unico e independente, merecedor de uma visita particular.
Arusha serviu para dormir uma noite, e apanhar o autocarro no dia seguinte para Nairobi, capital do Quenia. A paisagem continuou igual, seca, totalmente plana com excepcao das montanhas-vulcao que acompanham toda a estrada. Uma das montanhas e' o Kilimanjaro, a mais alta de Africa, com 5895 metros de altitude. Por todo o lado vem-se Maisai, a maioria a passear os seus bois. Outros, parados na estrada 'a espera de turistas para tirarem fotos.
O autocarro pa'ra no centro de Nairobi. Centro moderno, com avenidas largas, jardins cuidados, edificios altos, dos anos 60 e 70. A cidade e' desenvolvida, moderna, funcional. Apanho um taxi ate ao Milimani Backpackers. Fica num bairro residencial, cheio de arvores, vivendas, e sem transito. O estilo de bairro residencial que vi no Zimbabwe. Sem duvida que os ingleses gostavam das suas colonias com muitas vivendas e jardins.
Para continuar viagem, precisava de obter o visto para a Etiopia na respectiva embaixada no Quenia. Nao tinha grande interesse na cidade, mas como cheguei num sabado, tinha que ficar pelo menos ate segunda, para poder indagar do visto. Tentei conhecer os segredos da cidade, mas, nao encontrei muitos. Vi uma cidade moderna, com bairros comerciais a fervilhar de vida, com as pessoas a entrarem e sairem de pequenas lojas que ocupam todo o espaco disponivel dos pisos terreos dos predios. No centro, uma classe moderna de executivos de fato e gravata, homens e mulheres com aspecto cosmopolita e ocupado. Uma cidade a querer ser moderna, cheia de actividade. O parque automovel moderno. Visitei tambem o maior musseque da cidade, Kibera, que dizem ser um dos maiores de Africa. Aproveitei uma visita organizada a uma escola, para conhecer o interior da zona mais pobre de Nairobi. Mais uma vez, tanto tempo em Luanda, e tenho que vir a outros paises para conhecer as favelas. O lixo e a pobreza estao por todo o lado. A maioria das barracas de terra e madeira, com cobertura de chapa. Mas as pessoas andam na sua vida, atarefadas, sorridentes. Ha mercearias, talhos, peixarias, mecanicos, postos de gasolina, escolas, tudo o que um pequeno bairro precisa. O limite da favela e' uma linha de comboio, que serve tambem de arteria principal de circulacao pedonal, com lojas dos dois lados. 6 vezes por dia o comercio para durante 2 minutos, para deixar passar o comboio. As restante vielas, em terra batida, tem todas um esgoto a correr pelo meio. O cheiro e' mau, mas nao impossivel. Visitamos a casa da nossa guia, onde vive com os pais e os 4 irmaos. Pequenina mas limpa, com uma sala e 2 quartos. Quando chove e' preciso semear baldes pela casa para apanhar as goteiras. Oico as tipicas historias de projectos do governo de realojamento, em que as casas em vez de irem para estes moradores, sao vendidas a favor de um qualquer funcionario do governo. A escola que vamos visitar foi montada depois da violencia das ultimas eleicoes, que deixou orfas varias criancas do bairro. As escolas oficiais, que em teoria sao gratuitas, custam dinheiro. Por isso esta escola, que vive 'a base de donativos, recebe criancas que nao tem quem lhes pague as "propinas".
Mais uma vez, como comparacao, este musseque e' bastante mais pequeno e civilizado do que os poucos flashes que eu vi dos musseques em Luanda. Angola ainda tem muito caminho para percorrer...
Como nota, a historia de um tal Pio Gama Pinto. Dizem que era Queniano, mas o nome nao engana. Lutou pela independencia do Quenia. Como bom portugues, deu o corpo ao manifesto, e agora tem o nobre titulo de "Primeiro politico assassinado do Quenia".
Segunda-feira acordei e fui directo 'a Embaixada da Etiopia. Ainda na Zambia, dois ciclistas suicos tinham-me avisado que aqui ja nao emitiam vistos. Confirmei. Vistos para a Etiopia, so para residentes no Quenia. Porque? Porque sim. Mas se quiser, pode apanhar o aviao, e no aeroporto, 'a chegada, emitem-lhe o visto imediatamente, sem problemas nenhuns. Ora aqui esta' a famosa logica dos vistos a funcionar. Podia dizer que e' a tipica logica africana, mas cheira-me que, em relacao a vistos, ha muita coisa estupida por esse mundo fora. Ainda perguntei se na fronteira me davam o visto. Claro que nao, que disparate!
Ainda perguntei no forum do Lonely Planet (uma das melhores fontes de informacao para viagens), mas alguem me respondeu que era impossivel conseguir o visto na fronteira. Desisti.
O percurso de Nairobi ate 'a fronteira com a Etiopia e' de longe o mais duro do caminho que tenho que percorrer. O norte do Quenia e' uma zona desertica, abandonada pelo governo. A estrada esta' num estado miseravel e, pior que isso, esta' carregada de bandidos somalis, que atacam os veiculos passantes. Os autocarros e camioes tem por habito juntarem-se em caravanas para percorrer este caminho, com guardas armados em cima dos camioes. Ainda por cima com a grande fome que afecta a somalia e o norte do Quenia, os bandidos devem estar especialmente desesperados.
Se fazer este caminho uma vez ja era mau, uma viagem de ida e volta ate' 'a fronteira, 3 dias para cada lado, era mau demais. Soube mais tarde que, um mes antes, um frances a viajar no proprio carro com a mulher, tinha levado um tiro que lhe furou a cara. Com estes argumentos tento justificar, perante a plateia, porque e' que a minha viagem atraves de Africa nao foi feita toda por terra. Espero que aceitem as minhas desculpas, prometo nao facilitar mais nenhuma vez.
Dia seguinte apanhei o aviao Narobi-Addis Ababa.
Aviao 'as 3 da manha, viagem de duas horas. Deixo para tras uma paisagem seca e quente, e aterro numa paisagem verde, coberta de nuvens carregadas. A uma altitude de 2300mts, e muito mais a norte que o Quenia, o tempo e' bastante mais fresco. Descubro que estamos numa das duas epocas anuais de chuvas, e nao ha um dia que nao chova. Depois de conhecer uma cidade moderna, ligada ao mundo, dou de caras com uma cidade atrasada, pobre, que nao sabe o que e' ou o que quer ser. Os carros sao todos velhos. Os taxis sao todos iguais: velhos Ladas, azuis, com ar de que nunca vao chegar ao destino. O taxista passa-me a macaneta da janela do lado do condutor para eu poder abrir a minha janela. Por todo o lado pequenos rebanhos de cabras, guiadas por pastores maltrapilhos, descalcos. O ceu permanentemente cinzento nao ajuda. Isto nao e' uma cidade alegre.
Para tras fica o Serengeti |
Cratera vulcanica em Ngorongoro |
O tuga assassinado |
Posto de gsolina no musseque |
Che', vem ai o comboio! |
Mesma rua sem comboio |
Mesma rua com comboio |
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