Passei pela Etiopia só porque estava no caminho para o Egipto. Não tinha interesse para mim. E assim descobri o país mais fascinante e surpreendente da minha travessia.
Cheguei ao hotel às 7 da manhã. Fui directo dormir e, depois de um almoço rápido, saí para comprar um cartao SIM e passear pela cidade. Ia eu pela rua fora quando dois rapazes etíopes, nos seus 20 anos, vêm falar comigo. A conversa de sempre: de onde és? como te chamas? o que procuras? podemos ajudar? Somos estudantes e estamos de férias, só queremos praticar ingles. Com o cansaço que levava nem me quis chatear e deixei que me acompanhassem na caminhada. Descemos a avenida principal de Addis-Ababa, e eles começam com a conversa que aquele era um dia especial, em que toda a gente se juntava para beber chá e comer khat (fosse lá o que isso fosse). Passamos por um pequeno bar e convidam-me para entrar só para ver. Normalmente mando-os dar uma curva, mas eram simpaticos e nao tinha nada que fazer por isso entrei para ver. Um bar pequenino com várias mesas baixas, com pessoas a fumar shisha e a comer umas plantinhas. Sentamo-nos numa mesa, onde ja estava mais gente, e eles pediram o khat. Vieram entao uns ramos cortados, ainda verdes, com folhas. De cada ramo, cortávamos e comiamos as folhas. O ambiente e as pessoas eram simpaticas, as plantas sem sabor especial mas era um passatempo engraçado, como comer tremoços ou amendoins. Uma boa desculpa para conversa. Ficámos 4 horas à mesa, a falar, beber chá e comer folhas. Durante as conversas fui percebendo: a planta é tipica da Etiopia, consumida por todo o pais, e tem um pequeno efeito estimulante: deixa-nos relaxados, sem cansaco, e bem dispostos. Só com 3 horas de sono, e estava fresco como uma alface. Descobri depois que a plantinha era proibida nos EUA, embora legal na Europa.
Juntaram-se a nós mais 2 amigos que estavam na mesa connosco, e de taxi fomos a um bar de música tradicional, ao vivo. Um tambor e uma especie de violino deitavam uma música meio àrabe, meio africana. Duas dançarinas e uma cantora, passeavam pela pequena sala a cantar e a desafiar as pessoas. Os meus "guias" encomendaram uma grande panqueca (injera) com carne, molhos e vegetais lá no meio. Mal o grande prato aterrou na mesa, começaram todos a arrancaram pedaços de panqueca que usavam para pegar no resto da comida. Na Etiopia não há talheres nem pauzinhos.
Já de estomago cheio, saltámos para outro bar de música ao vivo. Aqui era só um artista com o seu sintetizador, mas estava toda a gente aos saltos, a dançar.
Depois de tanta música tradicional, os meus "amigos" decidiram ir a um sitio mais moderno. Acabámos numa discoteca, em que todas as clientes tinham aspecto de, apesar de ser uma da manhã, ainda estarem a trabalhar. E realmente, ainda estavam todas a trabalhar. Passado pouco tempo, os meus guias começaram a discutir entre eles, e foi cada um para seu lado. E assim acabei a apanhar o taxi sozinho para casa. O único senão da noite: durante todo o tempo, os meus "amigos" estavam também a trabalhar a carteira do turista. Como? Cada conta que vinha, em cada bar ou restaurante, vinha inflacionada. Como eu fazia questão de pagar as contas, que nao eram muito altas, eles iam amealhando a diferença. A noite acabou quando eles viram que o dinheiro era pouco para dividir pelos 4.
Dia seguinte acordei e resolvi ir passear a minha ressaca até à embaixada do Egipto. O primeiro guia que se meteu comigo na rua levou uma rosnadela antes de ter tempo de dizer olá. A embaixada do Egipto estava fechada por ser feriado no Egipto, por isso tive que esperar mais um dia para pedir o visto.
Dia seguinte, já sem ressaca, fui cedo à embaixada. Visto sem problemas, mas demora 4 dias úteis, mais o fim de semana pelo meio. Passei na Ethiopian Airlines e comprei um bilhete para Lalibela, a cidade das igrejas na pedra. Vôo nessa noite, às 5 da manhã (aqui parece que só gostam de descolar de noite...).
Nessa noite, depois de jantar, fui ver uma banda a um bar de jazz colado ao hotel. Durante uma fantástica actuação ao melhor estilo Fat Freddy's Drop, conheci dois músicos de jazz, que depois me convidaram para ir beber um copo a outro bar. Fizeram questão de me pagar as bebidas, como convidado que era, e despedimo-nos com promessas de falarmos quando eu regressasse. Afinal a Etiópia não tem só gente da má!
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