segunda-feira, 25 de julho de 2011

Genocidio

250 mil. 250 mil cadáveres. 250 mil pessoas, como tu e eu, violadas, torturadas, mutiladas, esventradas, assassinadas.
250 mil e' o numero de pessoas enterradas em valas comuns, nos jardins do Centro Memorial do Genocídio do Rwanda.
Do milhão de pessoas brutalmente assassinadas, durante os 3 meses de chacina no Rwanda, 1/4 estão enterradas aqui, neste centro construido em Kigali, para relembrar, investigar e educar sobre os acontecimentos de 1994.
Genocídio vem das palavras "geno" (raça) e "cidio" (matar). Neste caso, o "geno" eram os Tutsis.
O Rwanda tinha na altura 10 milhões de habitantes, dos quais 90% Hutos, e 10% Tutsis. Eram governados por um presidente ditador, Habyarimana, e os seus mais próximos, todos Hutos. Eles não queriam perder o poder. Face aos problemas que começaram a ter, arranjaram um bode expiatório, os Tutsis, que já eram descriminados há dezenas de anos. Para propaganda, usaram jornais, rádios e televisão. Espalharam a mensagem que os Tutsis queriam controlar o pais, explorar os Hutos e escraviza-los. O exercito era totalmente controlado pelo governo, tal como a policia. Como se não chegasse, formaram milícias, grupos de jovens, treinados militarmente, só com um objetivo: exterminar os terríveis Tutsis!
No dia 4 de Abril, o avião do presidente foi abatido. O presidente morreu.Bem preparados, com o plano estudado ao pormenor, o governo deu ordem para o inicio do extermínio dos Tutsis da face da Terra.
Primeiro foram os Tutsis mais influentes, As milícias foram a casa de cada um deles e exterminaram toda a família. A primeira ministra, Huto, tentou para o massacre. Foi torturada e assassinada. O mesmo aconteceu aos 10 soldados belgas que a tentavam proteger. Pelas cidades, aldeias, campos, o massacre começou. Nenhum Tutsi podei ser poupado. Hutos qu tentavam ajudar Tutsis, tinham o mesmo destino. As milícias percorriam as ruas das cidades, as aldeias, em busca de Tutsis. As únicas armas que tinham eram bastões com pregos, catanas (machetes), pedras. Quando os Tutsis se juntavam para se protegerem, era chamado o exercito. Com balas e granadas davam cabo da resistência. Depois entravam as milícias para fazer o trabalho de carniceiros. Graças 'a  propaganda emitida, muita gente foi convencida que os Tutsis eram perigosos, e por isso juntaram-se também 'as milícias. Mataram-se vizinhos, cunhados e ate' filhos. Segundo a regra, filho de pai Tutsi e mãe Huto e' Tutsi. A loucura era tanta que houve casos de mães a matarem os próprios filhos...
Visitei a igreja de Nyamata. Os Tutsis da zona refugiaram-se la.Durante alguns dias, homens, mulheres, crianças, idosos, bebes resistiram 'as milícias. 10.000 pessoas na igreja! Veio o exercito. Começou a disparar para dentro da igreja. As pessoas começaram a cais, umas sobre as outras, sem poderem fugir. No chão escorria sangue como se fosse agua. As milícias entraram para matar os sobreviventes. As crianças, esmagavam-lhes a cabeça contra a parede da igreja. Num dia, morreram os 10.000. Ou quase. Mas no dia seguinte, as milícias voltaram para matar os que ainda respirassem.
Hoje, estão la amontoados, para que ninguém se esqueça, as roupas de todas as vitimas. Montes e montes de roupa ainda vermelha de sangue. O pano do altar ainda tem as manchas vermelhas. As paredes e o tecto também. Estão expostas algumas ossadas das vitimas. Na igreja só existe um caixão, fechado. Nele esta' o corpo de uma mulher. Quando foi apanhada, estava com o bebe nos braços. Foi violada pelos 20 homens da milícia. Espetaram-lhe pregos por todo o corpo. Enfiaram-lhe uma vara pela vagina, ate sair pelos ombros. Antes que morresse, colocaram-lhe o bebe nos colo, e, com a mesma vara, furaram o bebe e a mãe de uma só vez. Esta no caixão porque os familiares quando vão 'a igreja não aguentam olhar para ela.
Na igreja de Ntarama, eram 2.000. A historia a mesma. Ainda la esta a vara usada para torturar mulheres. 'As crianças, agarravam-nas pelos pés e batiam com elas na parede ate a cabeça rebentar. Ainda la esta a parede e as manchas! Noutra igreja, os Tutsis tantos e as milícias poucas. O exercito chegou. Tiros. Para não fugirem cortaram os tendões de Aquiles 'as vitimas. E durante alguns dias, foram matando os Tutsis que la estavam, espalhados pelo chão, 'a espera da morte.
O terror só acabou quando um exercito de rebeldes Tutsis entrou no pais, e derrubou o governo. Isso levou 3 meses, e custou 1 milhão de vidas.
A segunda parte da historia acho mais impressionante.
Os rebeldes Tutsis formaram de imediato um governo. Com Tutsis e Hutos, O Presidente e o Primeiro-ministro Hutos. Muitos dos assassinos fugiram para o Zaire, mas muitos ficaram e foram apanhados. O governo não matou um único. Entre a reconstrução de um pais em ruínas, montou tribunais civis e tribunais tradicionais. Os criminosos foram chamados 'a justiça. Os que aceitaram colaborar tiveram sentenças reduzidas. Todos os guias dos locais de recordação são sobreviventes. O nosso guia na igreja de Ntarama 'e um dos 2 únicos irmãos que sobreviveram, duma família de 12 . Durante 4 semanas, com 13 anos, andou escondido em montes e pântanos ate encontrar os rebeldes. Mais tarde, um dos assassinos aceitou mostrar-lhe onde estavam enterradas a mãe e uma irmã. "Mostrou-me onde elas estavam, e assim ajudou-me a ter paz". Muitos dos assassinos estão ainda na prisão. Muitos já estão em liberdade, no Rwanda.
O pais não esquece nem esconde. Todos os locais de massacre estão conservados. As crianças visitam-nos com a escola. Mas o pais decidiu avançar. Perdoar. Perdoar os assassinos dos próprios pais e irmãos.
No pais que eu vi, não existem Tutsis nem Hutos, só Rwandenses. Os campos estão todos cultivados e verdes., os autocarros saem a horas, a policia não pede dinheiro, as cidades sao seguras para andar 'a noite.
Passados 17 anos de um dos maiores massacres da historia da Humanidade, o Rwanda e' um dos países mais desenvolvidos de África. E sem mais uma gota de sangue.

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